A Páscoa de Jesus
Texto: Mt 26.17-30
Introdução
A Páscoa (palavra
derivada do termo hebraico pessach)
era a primeira festa judaica, a ser realizada no dia 14 de Nisã, primeiro mês
do calendário judeu (Nm 12.1-14). Cada família em Israel comemorava a libertação
do Egito com o sacrifício de um cordeiro. Era seguida imediatamente pela Festa
dos Pães Asmos (Lv 23.6), que durava uma semana. Às vezes os dois nomes se
confundem. Quatro dias antes da Páscoa, o cordeiro que seria morto era separado
(Ex 12.3-6) e no dia 14 era levado ao templo para ser morto, sendo
imediatamente conduzido para a casa, onde seria assado.
A festa da páscoa é
o mais importante dos memoriais do Antigo Testamento, sendo o início de uma
série de acontecimentos sem precedentes, que culminaram na entrada do povo na
Terra Prometida.
Os elementos de
celebração da Páscoa Judaica
Quando Deus
instituiu a páscoa, apenas três elementos foram incluídos nesta celebração: o
cordeiro assado, os pães asmos e as ervas amargosas. Ao longo dos anos, porém,
outros elementos foram adicionados pelos judeus à ceia de Páscoa. A refeição
pascal é chamada Seder, que significa
“ordem”, pois segue uma ordenação ou ritual. Estes eram os elementos que faziam
parte da Páscoa judaica tradicional, cada um com um significado especial:
• O
Cordeiro Pascal: Lembrava a proteção, o livramento dos primogênitos da casa dos
filhos de Israel, quando cada família israelita aspergiu o sangue do cordeiro
nas ombreiras e na verga da porta. Era uma lembrança e uma comemoração deste
maravilhoso livramento (Êx 12). Era um sacrifício em substituição: o cordeiro
morria em lugar do primogênito.
•
Os
Pães Asmos (hebraico matsah):
Lembravam a saída urgente de Israel da terra do Egito, sem tempo para esperar a
fermentação da massa. Também representavam a separação entre os israelitas
redimidos e o Egito. Também chamado de “pão de aflição”, que representava os
sofrimentos dos filhos de Israel (Êx 12.15,34,39; Dt 16.3).
•
Ervas
Amargas (hebraico marór): Lembravam
as amarguras da escravidão no Egito (Nm 9.11).
• Água
Salgada: Lembrava as lágrimas salgadas derramadas pelos israelitas durante os
seus anos de escravidão no Egito.
•
O
Molho de Frutas (hebraico charoshet):
Lembrava a massa de tijolos que os filhos de Israel tinham de preparar na terra
do Egito (Êx 5.6-19).
• Quatro
Cálices de Vinho: Lembravam as quatro promessas de Deus ao povo de Israel: vos
tirarei, vos livrarei, vos resgatarei, vos tornarei (Êx 6.6,7). Eram chamados
cálice do êxodo ou da santificação, cálice da libertação, cálice da bênção
e cálice da eleição.
Jesus celebrou a
Páscoa
Jesus também cuidou
dos preparativos para a sua Páscoa, enviando Pedro e João para encontrar um
homem que levava um cântaro de água e os conduziriam até o local designado para
esta celebração (Lc 22.8-10; Mt 26.18; Mc 14.13). Eles assim fizeram e
prepararam o cenáculo onde Cristo estaria com eles.
O Mestre declara
que tinha desejado muito comer aquela última Páscoa com os seus discípulos (Lc
22.15,16), antes da crucificação. Os doze apóstolos reclinavam-se junto a uma
mesa baixa para comer os elementos da Páscoa (Mt 26.20; Jo 21.20),
diferentemente da primeira Páscoa, que foi comida apressadamente, de pé (Ex
12.11). Os alimentos eram colocados na Keará,
um prato especial que fica em frente ao lugar onde senta o chefe da família.
Jesus certamente
conhecia a sequência estabelecida pela tradição judaica para esta celebração.
Quatro cálices de vinho eram tomados naquela noite e antes de servir o
primeiro, Jesus deu graças e deu-o aos Seus discípulos (Lc 22.17).
Havia também uma
lavagem cerimonial, que foi realizada por Jesus (Jo 13.4,5). O Mestre tomou o
papel do servo para si e deu uma lição de humildade a seus discípulos. Depois
da lavagem, a celebração continuava com a ingestão de ervas amargosas (salsa,
endívia e verduras de folhas semelhantes), que lembravam a aspereza da
escravidão. Elas eram acompanhadas de pão sem fermento, imersas num molho
picante feito de romãs, maçãs, tâmaras, figos, passas e vinagre (charoshet). Este molho tem cor de
cimento e lembra o trabalho escravo no Egito.
Em seguida o
segundo cálice era passado, quando o chefe da família explicava o significado
daquela festa e todos cantavam os dois primeiros salmos do Hallel (salmos 113 a
118). Depois, o cordeiro era distribuído pelo dono da casa, acompanhado de pães
asmos. Foi provavelmente num destes momentos que Jesus declara que algum dos
doze o trairia (Mt 26.21), aquele que “mete a mão no prato” (v23). Cristo cita o
Salmo 41.9, indicando o seu significado messiânico (Jo 13.18). Judas pergunta:
“Sou eu?” e Jesus responde: “Tu dissestes” (Mt 26.25). Este comentário deve ter
sido feito em voz baixa, de forma que os outros não ouviram. Pedro faz um sinal
a João para que pergunte a Jesus quem era o traidor (Jo 13.23-26). Jesus o
identifica dando-lhe um pedaço de pão molhado, mas aparentemente os outros não
perceberam o seu ato.
Jesus diz ao
traidor: “o que tens a fazer, faze-o depressa”, mas os outros apóstolos não
entendem o significado desta declaração (Jo 13.27-29). Os líderes judeus talvez
preferissem deixar a prisão de Jesus para depois da Páscoa (Mt 26.5), mas
Cristo estava no controle do cronograma divino e precipita tudo para aquela
noite, a fim de cumprir o seu papel como Cordeiro Pascal. Judas saberia onde levar os guardas, pois Jesus sempre ia orar com os
discípulos no Getsêmane (Jo 18.2).
A instituição da
Ceia do Senhor
Jesus transforma a
celebração da Páscoa numa nova cerimônia, a Santa Ceia. Toma um pão, dá graças,
o parte e dá aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo”. Em seguida, toma o
terceiro cálice de vinho, dá graças e o serve aos discípulos, com as palavras:
“Este é o cálice da nova aliança” (Mt 26.26-30). Este terceiro cálice de uma
celebração tradicional de Páscoa era chamado “o cálice da bênção”, mesma
expressão usada por Paulo na orientação dada a igreja em Corinto sobre este
assunto (1 Co 10.16). Cristo estava instituindo o que se tornaria uma
recordação da sua morte (Lc 22.19), pois Ele mesmo seria o Cordeiro pascal que
morreria pelos homens.
Ao final, o Senhor
declara que esta seria a última Páscoa com os discípulos até que Ele retornasse
para estabelecer o Reino de Deus, reafirmando a promessa do Seu retorno para
buscar os seus discípulos e estar com eles para sempre (Jo 14.3).
A celebração é
concluída com um cântico, provavelmente do Salmo 118, último cântico do Hallel,
forma tradicional de encerrar a ceia da Páscoa entre os judeus.
A última Páscoa
Esta seria a última
Páscoa sancionada por Deus, pois o Antigo Testamento, com seus rituais seriam
cumpridos na morte de Cristo, algumas horas depois. Uma Nova aliança estava
sendo estabelecida. Jesus tomou alguns elementos da refeição pascoal e
transformou numa nova celebração.
A Páscoa judaica
encontra seu comprimento e seu fim na, vida, morte e ressurreição de Jesus
Cristo. A Páscoa no AT e a Ceia do Senhor Jesus no NT apontam para uma mesma
coisa: o Sacrifício de Jesus Cristo!
A Ceia do Senhor Jesus inicia uma nova era e aponta para uma obra já consumada. No cenáculo deu-se um acontecimento notável: A Festa Pascal foi solenemente encerrada (Lc 22.16-18), e a Ceia do Senhor Jesus instituída com uma solenidade ainda mais sublime (Lc 22.19-21; 1 Co 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e começou outro. Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a consumação da outra. A Páscoa agora tinha alcançado seu propósito profético, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava ia ser morto naquele dia. Por isso foi substituída por uma nova celebração, apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo, como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo. O Êxodo deu vida à nação de Israel. O sacrifício de Cristo fez nascer a Igreja, um povo proveniente de todas as nações.
A Ceia do Senhor Jesus inicia uma nova era e aponta para uma obra já consumada. No cenáculo deu-se um acontecimento notável: A Festa Pascal foi solenemente encerrada (Lc 22.16-18), e a Ceia do Senhor Jesus instituída com uma solenidade ainda mais sublime (Lc 22.19-21; 1 Co 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e começou outro. Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a consumação da outra. A Páscoa agora tinha alcançado seu propósito profético, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava ia ser morto naquele dia. Por isso foi substituída por uma nova celebração, apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo, como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo. O Êxodo deu vida à nação de Israel. O sacrifício de Cristo fez nascer a Igreja, um povo proveniente de todas as nações.
Conclusão
Jesus como judeu
comemorou a páscoa, mas a partir desta instituiu a Santa Ceia. Ele é a nossa
verdadeira páscoa, que foi sacrificado por nós (1 Co 5.7) e agora comemoramos a
Sua morte e ressurreição. A páscoa representa para os cristãos o próprio Cristo
e seu sacrifício. A Páscoa era uma cerimônia para os judeus que foram escravos
no Egito. A ceia é uma ordenança para nós que fomos libertos por Cristo da
escravidão de pecado e o aguardamos em glória.
Assim, não
celebramos a páscoa judaica, pois uma nova instituição foi feita por Jesus. Ele
cumpriu o sentido profético da páscoa e nos deu um novo memorial como
ordenança: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19; 1Co 11.24,25).
Leitura sugerida:
MacARTHUR Jr, John.
A Morte de Jesus - prisão, julgamento e crucificação de Cristo e o seu
significado redentor. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
Um comentário:
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