Razões Por que se Deve Estudar Filipenses
A busca da "tranquilidade"
está sempre ativa - e com que impulso! Para se conseguir a paz de espírito, só
os norte-americanos consomem toneladas de tranquilizantes. Não só recorrem às drogas, mas também
buscam alívio nos livros. Estes têm-se transformado em best-sellers da
noite para o dia, alcançando, numa só tiragem, centenas de milhares de
exemplares. Os que os leem são induzidos ao processo de lavagem cerebral, e
começam o dia dizendo a si mesmos:
"Que manhã maravilhosa é esta! Que
pessoa (ou esposo) excepcional eu tenho! Que filhos encantadores! Que lanche
saudável e delicioso me aguarda! Que patrão simpático eu tenho em meu
trabalho!"
Tais "pacificadores", porém,
podem fazer mais mal que bem. Eles suscitam as seguintes objeções:
Primeiro, sempre que a suavização da
mente deixa de ser compatível com a realidade, a paz de espírito que daí
resulta deixará de ter um efeito duradouro.
Segundo, de todos, o mais obstinado é o pecado. Nenhuma quantidade
de estímulos ou "pensamentos positivos" é capaz de removê-lo.
Terceiro, a única paz que merece tal
nome é a paz com Deus, e esta não pode ser manipulada.
Quarto, os que confiam em tranquilizantes,
sejam livros ou comprimidos, podem estar partindo da falsa pressuposição de
que o desassossego espiritual ou
o conflito interior é um mal em si
mesmo. Mas, com certeza, é muito melhor encarar a realidade de frente do que tentar escapar-se dela.
A fuga nos leva à apatia espiritual. Confrontar os próprios fatos é o único
caminho que nos leva à "paz com Deus, que excede todo o
entendimento."
Ora, se alguém deseja saber como se pode
obter esta paz ou tranquilizante real, tanto de coração como de mente, deve
então buscá-la naquela epístola que contém precisamente a expressão que foi
citada acima (Fp 4.7). Esta pequena gema de quatro brilhantes capítulos projeta
a figura de um homem que descobriu a verdadeira paz. Ele descobriu o tesouro mais
precioso de toda a vida. Ele é "o
homem mais feliz do mundo". Ouvimo-lo
dizer, nesta epístola: "Regozijem-se sempre no Senhor. Outra vez lhes
digo: Regozijem-se."
"Digo isso não por causa da
pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto
sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as
circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de
abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece. Recebi tudo,
e tenho em abundância; estou suprido ..." (4.11-13,18).
E este homem que aprendera o maior
segredo da vida era um prisioneiro em Roma, olhando de frente sua possível
morte por execução!
Portanto, as razões porque se deve
estudar a epístola aos Filipenses sãos as seguintes:
1.
Ela
nos revela o segredo da verdadeira felicidade. E como tal
felicidade pode ser alcançada está claramente expresso nesta carta.
2.
Ela
nos revela o homem que descobriu o segredo. Filipenses é a
mais pessoal de todas as epístolas de Paulo. Esta característica se entrevê
também em 2 Coríntios, em
1 Tessalonicenses e em Filemom. Contudo, em nenhuma delas vemos a personalidade
real de Paulo, abrindo seu coração para aqueles a quem ele ama profundamente.
3.
Ela
nos revela o Cristo que ensinou o segredo. E aqui (em Filipenses)
que conhecemos a Cristo como nosso Padrão e Ajudador, na grandeza de seu amor
condescendente (Fp 2.5-11; 4.13).
Que coração
maravilhoso, que personalidade rica e multilateral era a de Paulo. Vemo-lo, antes de tudo,
como um servo feliz de Cristo Jesus: "Paulo e Timóteo, servos de Cristo
Jesus ... Dou graças a meu Deus por tudo que recordo de vocês, fazendo sempre,
com alegria, súplicas por todos vocês, em todas as minhas orações ..." (Fp
1.1,3,4).
Logo em seguida, o vemos como um prisioneiro otimista (prisioneiro do Senhor, é claro!):
"Quero ainda, irmãos, cientificar-vos que as coisas que me aconteceram têm
antes contribuído para o progresso do evangelho ... e a maioria dos irmãos,
estimulados no Senhor por minhas algemas ..." (Fp 1.12,14).
Mais tarde, o vemos como um humilde portador da cruz: "... mas por humildade,
considerando cada um os outros
superiores a si mesmo. Tenham em si o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus ... a si mesmo se humilhou ... Entretanto, mesmo que seja eu
oferecido por libação sobre
o sacrifício e serviço de sua fé, alegro-me e com todos vocês me
congratulo" (Fp 2.3,5,7,17).
Depois o vemos como um administrador solícito: "Espero, porém, no Senhor Jesus,
mandar-lhes Timóteo o mais depressa possível,
a fim de que me sinta animado também, tendo conhecimento de sua situação. No entanto, Julguei necessário enviar-lhes Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e,
por outro, seu mensageiro e seu auxiliar em minhas necessidades" (Fp 2.19,25).
Então o vemos como um idealista infatigável (e nesse
sentido um
perfecionista): "Não que eu o tenha já
recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo
para o que também fui conquistado por Cristo Jesus ... mas uma coisa faço, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e
avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Fp 3.12-14).
E ainda o vemos como um pastor de tato: "Rogo a Evódia, e rogo a Síntique que pensem concordemente, no Senhor.
... peço que as auxilie, pois juntas se esforçaram
comigo no evangelho ..." (Fp 4.2,3).
E finalmente o vemos como um recipiente agradecido: "Todavia, vocês fizeram bem, associando-se em minha tribulação. Recebi
tudo, e tenho fartura; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o
que veio da parte de vocês, como aroma suave, como sacrifício aceitável e
aprazível a Deus" (Fp 4.14,18).
Dois itens a mais devem ser acrescentados, na mesma conexão: Primeiramente,
as diversas facetas da rica personalidade de Paulo, os múltiplos campos em que
ela se desenvolve, coincidem. Nenhuma delas pode separar-se de nenhuma das outras. O mesmo homem que escreve como um servo feliz de
Jesus Cristo é também o prisioneiro otimista, o humilde
portador da cruz, etc. Portanto, na disposição do conteúdo da epístola, o
nome pelo qual Paulo é caracterizado, seja qual for a seção, não é feito de maneira rígida,
mas simplesmente de maneira enfática.
Em segundo lugar, do princípio ao fim nossa atenção
precisa concentrar-se não apenas na pessoa de Paulo,
isoladamente, mas considera-la em relação com seus mui amados filipenses. Tenhamos presente zcomunhãol
Assim entendido, o conteúdo desta carta genuína pode ser suma-nada como
segue:
O apóstolo Paulo derrama seu coração sobre os filipenses, a quem elogia de
maneira sublime e ama de modo
profundo.
Extraído de HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento - Efésios e Filipenses. São Paulo:
Cultura Cristã, 2005, páginas 353, 354, 396, 397.
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