AS VIRTUDES DOS
SALVOS EM CRISTO
Quando lemos o
texto de Filipenses 2.12,13, onde Paulo declara que os crentes devem operar a
sua salvação, mas que Deus é quem opera o querer e o efetuar, devemos ter cuidado
para não nos cairmos no extremismo. Se ressaltarmos apenas o verso 12,
poderíamos pensar que a salvação é realizada unicamente por nossos esforços, o
que é totalmente falso (este pensamento caracteriza o pelagianismo, que foi
condenado como herege pela igreja). Se, por outro lado, enfatizarmos apenas o
verso 13, poderíamos pensar que não devemos fazer absolutamente nada para
sermos salvos e vivermos uma vida santa. Devemos esperar totalmente em Deus,
que ele nos salve e nos mantenha longe do pecado.
O verdadeiro
ensino de Paulo está no equilíbrio: A salvação vem de Deus, que dá ao homem a
condição de crer em Jesus, não resistindo à graça divina, e a permanecer na fé,
mas que este homem deve procurar viver uma vida de tal maneira que agrade a
Deus. E a capacidade para isto vem da própria graça de Deus. Este é o ensino
arminiano.
A Declaração
Remonstrante, documento de origem do arminianismo declara nos seus pontos centrais:
“Que o homem não podia obter a fá salvífica de si mesmo ou pela força de seu
próprio livre arbítrio, mas necessitava da graça de Deus, através de Cristo,
para ser renovado no pensamento e na vontade (Jo 15.5)”;
“Que esta graça foi o início, o
desenvolvimento e conclusão da salvação do homem, de forma que ninguém poderia
crer nem perseverar na fé sem esta graça cooperante, e consequentemente todas
as boas obras devem ser atribuídas à graça de Deus em Cristo”;
“Que os verdadeiros cristãos
tinham força suficiente, através da graça divina, para enfrentar Satanás, o
pecado, o mundo, sua própria carne, e a todos vencer, mas que se por
negligência eles pudessem apostatar da verdadeira fé, perder a felicidade de
uma boa consciência e deixar esta graça, tal assunto deveria ser mais
profundamente investigado de acordo com as Escrituras Sagradas”. (OLSON, Teologia
Arminiana, pg. 41).
Armínio, na
sua obra “Declaração de Sentimentos”, afirma: “Em seu estado pecaminoso e
caído, o homem não é capaz, de e por si mesmo, quer seja pensar, querer ou
fazer o que é, de fato, bom, mas é necessário que seja regenerado e renovado em
seu intelecto, afeições ou vontade e em todas as suas atribuições, por Deus em
Cristo, através do Espírito Santo, para que seja capaz de corretamente
compreender, estimar, considerar, desejar e realizar o que quer que seja
verdadeiramente bom. Quando ele é feito um participante dessa regeneração ou
renovação, eu considero que, uma vez que ele é liberto do pecado, ele é capaz
de pensar, desejar e fazer o que é bom, mas entretanto, não sem a contínua
ajuda da graça divina” (OLSON, Teologia Arminiana, pg. 53).
Então vemos
que o arminianismo não crê num sinergismo onde o homem faz a sua parte e Deus a
dele. Crê que Deus toma a iniciativa e dá ao homem toda a condição para crer,
pela graça. O homem apenas não resiste à esta graça e aceita o que Deus lhe oferece,
pela fé. O homem deve permanecer crendo em Cristo para sua salvação e, mesmo
para o regenerado, a condição de permanecer vem da graça. A capacidade de
aceitar a graça vem da própria graça divina.
Se
acreditarmos que a capacidade de perseverar vem de nós, fruto da nossa
disciplina, em “pagar o preço” na oração, estudo da Bíblia, jejum, etc, estamos
caindo no pelagianismo e negando a plena necessidade da graça divina.
Não devemos
entender que “a operação do Eterno habilita qualquer pessoa à salvação através
da iluminação do Evangelho (Jo 1.9)” – ponto 3 da lição 5, como se toda a obra
do Espírito Santo em nós fosse apenas a capacitação do nosso entendimento, mas
que a vontade para fazer o bem é natural do homem, pois este ensino caracteriza
o semipelagianismo, que também foi considerado herege pela igreja.
A obra do
Espírito Santo é muito mais do que apenas no entendimento humano. Ele habilita
o homem caído, pela graça divina, a ouvir, entender e aceitar o evangelho,
dando-lhe a capacidade de não rejeitar a graça que lhe é oferecida.
No entanto,
como esta graça, quanto à seu modo de operar, é resistível, há muitas
exortações na Palavra, a que o homem não se afaste de Cristo, persevere crendo
e prossiga para o alvo para o qual o Senhor nos chamou: Cristo.
Não devemos,
pois entender que as virtudes dos salvos são qualidades morais naturais deles,
ou o poder de fazer o bem que eles apresentam, mas que toda a virtude vem de
Deus. É Ele, e apenas Ele que nos capacita a fazer o bem, pela graça, mesmo
para os salvos.
Ev. Kleber Maia
Um comentário:
Irmão, gostei muito de seu comentário, pois vai me ajudar na aula da EBD. Parabén.
Postar um comentário