A
EBD e a família, uma parceira de contribuição mútua.
Carlos Kleber Maia
A Escola
Bíblica Dominical (EBD) é uma oportunidade única de estudar a bíblia, aplicando-a
à vida pessoal e com uma mensagem adequada a cada faixa etária. É, por isso, um
instrumento de crescimento espiritual para toda a família. Os filhos precisam
de alimento espiritual, tem de ser ensinados nos caminhos do senhor e
instruídos no caráter cristão, precisam aprender que toda a vida deve estar
centrada em Deus e os pais tem um papel importantíssimo no acompanhamento da
vida espiritual dos filhos. Família e EBD têm uma meta em comum: formar cristãos
maduros e produtivos para honrar e servir a Deus. Esse fato tece laços
profundos entre as duas instituições, favorecendo a troca de informações e
ajuda mútua.
Nos dias
atuais, a família tem “terceirizado” para a EBD o encargo de ensinar aos seus
filhos as verdades espirituais e acredita que os mestres contagiem valores
morais e comportamentais, alegando que os pais trabalham cada vez mais, e não
tem tempo para zelar dos filhos. A família, contudo, não pode fugir a esta
responsabilidade, pois Deus delegou aos pais a tarefa de ensinar aos filhos a
Sua Palavra (Dt 6.6,7; Sl 78.5).
Portanto, é uma obrigação
e não uma opção dos pais dar aos filhos a instrução e a disciplina condizente
com a formação cristã (Ef 6.4). Os pais devem ser exemplos de vida e conduta
cristãs, e se importar mais com a vida espiritual dos filhos e não apenas com
seu emprego, profissão, trabalho na Igreja ou posição social; não que estes
sejam menos importantes, mas é preciso reconhecer-se a importância da formação
do caráter dos filhos, durante toda a vida destes. Uma conduta genuinamente
cristã reflete na constituição de um caráter coeso com os padrões de moralidade,
mesmo que esses padrões sofram alterações ao longo do tempo. A família deve,
então, cooperar com a EBD na instrução de seus pequenos, numa interação
abençoada e abençoadora.
Funções da família nesta interação:
1.
Estímulo – Cabe aos pais estimular os filhos a
frequentarem a EBD, e a melhor maneira de fazer isto é dando o exemplo (Fp 4.9).
A criança que acompanha os pais à EBD desde pequena será estimulada a continuar
quando crescer (Pv 22.6). Os pais que não vão a EBD cometem duplo erro: deixam
de progredir como deveriam na vida cristã e deixam de dar o exemplo a seus
filhos. Se os pais faltam ou se atrasam, os filhos os acompanham, geralmente.
Por isso, devem esforçar-se para ser pontuais e frequentes na EBD.
2.
Valorização – Os pais ensinam os filhos a valorizar
a leitura e o estudo da Bíblia, a respeitar seus professores e colegas e a
fazer, durante a semana, a preparação para as aulas. Os pais devem
interessar-se pelo que os seus filhos estudaram, o que é que aprenderam, o que
é gostaram mais. Devem ajudar seus filhos durante a semana, nas leituras da
bíblia, no estudo da lição, na aprendizagem dos versículos e nas tarefas de
aplicação bíblica, bem como ensinar os seus filhos a orarem pelos professores
da EBD e a ter amor pela igreja. Os pais devem considerar a EBD como uma escola
importante para o desenvolvimento espiritual e moral dos seus filhos, assim
como valorizam o bom empenho nos estudos seculares dos seus filhos.
O segredo
de uma EBD dinâmica e eficaz depende, e muito, do aluno. O aluno dedicado,
assíduo, pontual, responsável, vai à EBD com prazer e não simplesmente para
“marcar o ponto” ou rever os amigos. Ele faz a lição de casa, lê a Bíblia e sua
revista, anota suas dúvidas e vem disposto a colaborar seriamente na sala de
aula.
É
lamentável quando o aluno vai à escola dominical sem ter estudado durante a
semana, sem sua Bíblia e/ou sem revista. O que dizemos do aluno que vai à
escola sem levar livros ou caderno? Em contrapartida, o que dizer do aluno que
pesquisa em casa sobre o assunto estudado em sala de aula, complementando seu
estudo?
De uma
coisa precisamos estar cientes: muito do bom desempenho do professor numa sala
de aula depende de seus alunos. Quando o aluno não se prepara em casa, conforme
já mencionamos acima, ele perde a oportunidade de contribuir com algo mais.
Contribuindo, ganha a classe e o professor também. Muitos dos alunos que ficam
calados durante a exposição do professor cometem o erro (para não dizer
“pecado”) da negligência semanal, e os pais podem estimular seus filhos a serem
melhores alunos.
A
contribuição dos pais na educação cristã dos filhos deve ser inabalável e
consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares. É
importante que pais e professores, filhos/alunos compartilhem conhecimentos, alcancem
e trabalhem os assuntos envolvidos no seu dia-a-dia, pois a família é o espaço
adequado para se viver os valores aprendidos na EBD, entendendo-se que a
potência da ação normalizadora da escola sobre crianças e adolescentes é maior quando
respaldadas pela experiência e aceitação da família.
Geralmente
as crianças não apreciam levantar cedo para ir à EBD. Boa parte delas já faz
isso durante a semana. Porém, os pais devem ensinar aos filhos que a escola de
domingo é muito especial. Erra o pai ou a mãe que acha que não deve levar sua
criança à EBD apenas porque ela está cansada por estudar durante a semana, ou
porque brincou demais no sábado ou foi dormir tarde por causa daquela festa na
igreja. Esse é um tipo de compaixão que não edifica. É nessa hora que os pais,
amigavelmente, devem mostrar aos filhos que a EBD é importante para toda a
família.
Funções da escola nesta interação com
a família:
1.
Conteúdo – A EBD provê o conteúdo que será
ensinado, a grade disciplinar adequada a cada faixa etária, os materiais de
apoio etc. Ela define os objetivos e a filosofia educacional: o que queremos
alcançar com este ensino e por que.
2.
Método – Cabe também à escola determinar o
método de ensino/aprendizagem a ser utilizado em sala de aula, para melhor
absorção dos conteúdos. Para isso, os professores precisam ser constantemente
orientados e estimulados a se aperfeiçoarem no seu trabalho.
É, portando, na escola, que se pensa sobre o que pode ser ensinado
às crianças, sobre o método que pode tornar mais lógica a ação do conjunto
docente e como a EBD poderá encontrar saídas legítimas à superação dos enigmas
morais e éticos que assolam o seu dia-a-dia, pela aplicação da Palavra de Deus.
Contribuições
da EBD para a Família
a)
Ensino transformador - A EBD leva aos seus
alunos o ensino da Palavra de maneira eficiente, a fim de conduzi-los ao
conhecimento da verdade e a experiências reais com Deus. Promove uma educação
de aplicação transformadora, viva, não apenas teórica, pois está carregada de
realidade e senso prático, que visa levar os alunos a uma mudança de
comportamento para uma vida de temor, santidade e serviço cristão. A família é um lugar de aplicação e vivência do ensino da EBD.
b)
Desenvolvimento de amizades - A EBD é o espaço
mais propício ao desenvolvimento de amizade e companheirismo cristãos, pois
reúne os seus alunos conforme a faixa etária e propicia a interação entre eles.
Existe uma classe para cada idade, e a família toda pode receber o conteúdo
adequado para sua formação cristã. Alguns adolescentes se afastam do evangelho
porque viram seus amigos de infância se distanciarem da fé. Daí a necessidade
de incentivar as crianças a se entrosarem com outros coleguinhas da igreja.
Essa troca fortalece a vida espiritual delas. Muitos pais saem da igreja
correndo para casa e se esquecem de que os filhos precisam desenvolver essas
amizades. Além disso, os pais precisam mostrar a alegria de estar na igreja
para que os filhos desejem permanecer mais tempo ali.
c)
Ensino continuado - Há uma enorme e crescente
necessidade de genuíno e sadio alimento espiritual que só pode ser obtido pelo
estudo claro, metódico, continuado e progressivo da Palavra de Deus. A EBD é a
própria igreja crescendo e desenvolvendo-se através do estudo da Palavra de
Deus. Na EBD homens, mulheres, jovens, adolescentes e crianças adquirem uma fé
mais robusta e madura, e, assim, estarão continuamente sendo preparados para desempenharem
suas atividades na obra de Deus e a desenvolver a espiritualidade e o caráter
cristão.
d)
Evangelização - A EBD é um dos meios de
evangelização que a igreja possui, ou seja, pode-se evangelizar na EBD e
através dela. Além disso, nela o crente aprende a amar e cooperar com a obra
missionária. É o ambiente propício para que a família traga convidados não
cristãos para aprenderem a Palavra de Deus. A igreja pode ajudar criando uma
classe de alunos não crentes, realizando feira missionária, etc.
e)
Descoberta de talentos - A EBD é o lugar para
a descoberta, motivação e treinamento de novos talentos. Ali as crianças e
adolescentes podem envolver em tarefas edificantes e, assim, desenvolverem seus
diversos talentos: musicais, teatrais, organizacionais, etc. Grande parte dos
adolescentes se afasta da fé porque não aprofundou suas habilidades dentro da
igreja.
Papel
da família na educação cristã
Psicólogos,
educadores, pais e pastores concordam em um ponto: a formação do caráter começa
na infância. “Até os sete anos, a criança está em formação da sua
personalidade. A criança pequena é como uma esponja, pois absorve tudo o que
lhe é ensinado. O que aprende nessa fase, ela vai levar para o resto da vida.
Quanto mais cedo conviver com a ideia de Deus, certamente isso será apreendido
de forma mais profunda”, explicou a psicóloga Elizabeth Pimentel, autora do livro
“O Poder da Palavra dos Pais” (Editora Hagnos).
Os pais
são os primeiros educadores na vida dos filhos. Assim como os filhos aprendem a
falar com os pais, também aprendem códigos de conduta, a viver com limites, a
respeitar e serem respeitados, a amar a Deus acima de todas as coisas, a ter um
coração grato, a amar ao próximo, a ler a Bíblia, a orar, a obedecer. O
problema é que os pais muitas vezes não ensinam os filhos “no” caminho em que
devem andar, mas ensinam “o” caminho em que devem andar, e os próprios pais
andam por outro caminho (Pv 22.6).
Crianças
geralmente observam tudo e procuram verificar se aquilo que os pais dizem sobre
religião e fé faz parte da experiência de vida deles. Se os pais estão
dispostos a obedecerem àquilo que ensinam, então, são dignos de inteira
confiança.
Cabe à
igreja o papel de auxiliar e dar suporte à educação dos filhos de seus membros.
Isto precisa ser realizado de forma criativa e contextualizado com o mundo
atual, para atrair as crianças e os adolescentes às suas atividades e também
englobar os pais, para que eles tenham ciência do que seus filhos estão
aprendendo dentro da igreja e qual o papel destes na formação daqueles.
A igreja deve conscientizar a família
que ela pode e deve complementar o ensino bíblico que a criança recebe na EBD,
por meio de ações realizadas no âmbito do lar, como estas:
a)
Culto doméstico – A prática do culto doméstico
promove a espiritualidade no lar. Vivemos em um mundo globalizado, onde a
individualidade, o materialismo-consumista tem ocupado a primazia no ambiente
familiar, portanto valores espirituais são importantes na vida familiar. A
igreja deve estimular e promover o culto doméstico como prática frequente entre
seus membros.
b)
Dia de consagração – Família que ora
unida vence unida. Um dia de consagração familiar tem o propósito de unir a
família na oração e jejum. Este dia pode fazer parte do calendário da igreja.
c)
Desenvolvimento da leitura – Está mais do que
comprovado que o indivíduo que lê frequentemente e com discernimento alcança
amplos benefícios, entre eles, uma maior compreensão das verdades espirituais. A
leitura é um processo pelo qual nós chegamos a entender as ideias de outra
pessoa. Isso é provavelmente a forma mais eficiente de aumentar o que sabemos
acerca da realidade e de como viver melhor.
A pessoa que aprendeu a ler bem não depende apenas de professores vivos
para sua educação. O crescimento de sua mente, benfeitoria de sua sabedoria e
seu comportamento não estão associados ao fato de estar ou não em uma escola, pois
quase todos os maiores pensadores da história compartilharam sua sabedoria por
escrito e em virtude desses grandes livros estarem quase todos disponíveis para
a compra em lojas ou emprestados em bibliotecas, a pessoa que se treinou na
leitura boa e ativa, que se preocupa em crescer em sabedoria, não depende
exclusivamente de aulas com professores. Ao contrário, um bom leitor não está
escravizado pela TV e internet. Este tal tem uma vida inteira de conhecimento à
sua frente. É de máxima importância que os adolescentes e jovens parem de
encher suas cabeças com o conteúdo superficial da TV e internet e comecem a
formar o hábito da leitura ativa e frutífera. É uma decepção terrível que o
aprendizado e o conhecimento mental estejam estritamente associados à escola. A
boa leitura deve ser a vocação de uma vida inteira. A família deve esforçar-se
para estimular seus membros à leitura de Bíblia, de bons livros evangélicos e
de outros livros edificantes, muito úteis na formação de todos.
A igreja pode ajudar promovendo gincanas de leitura bíblica,
incentivando a formação de clubes de leitura, criando bibliotecas, etc.
Conclusão
A EBD têm
proporcionado muitas contribuições à família evangélica, auxiliando-a para que
possa tornar os lares verdadeiros ambientes de saúde física, espiritual,
psicológica e social. A educação é um esforço conjugado entre a
família, escola e a igreja. O ensino aplicado e valorizado por todos tem o
poder de guiar a criança por toda a vida.
Carlos Kleber Maia é casado com Dione
e têm dois filhos: Álvaro e Diana. Pastoreia atualmente a congregação da
Assembleia de Deus no bairro de Gramoré, em Natal/RN. É graduado em
Teologia com Especialização em Teologia do Novo Testamento.
Um comentário:
Parabéns ao Pr. Kleber Maia pela brilhante iniciativa em escrever este artigo. Pensei em fazer isso, mas meus interesses foram perfeitamente contemplados nesta matéria.
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