sábado, 25 de janeiro de 2014

A Páscoa de Jesus

A Páscoa de Jesus
Texto: Mt 26.17-30

Introdução

A Páscoa (palavra derivada do termo hebraico pessach) era a primeira festa judaica, a ser realizada no dia 14 de Nisã, primeiro mês do calendário judeu (Nm 12.1-14). Cada família em Israel comemorava a libertação do Egito com o sacrifício de um cordeiro. Era seguida imediatamente pela Festa dos Pães Asmos (Lv 23.6), que durava uma semana. Às vezes os dois nomes se confundem. Quatro dias antes da Páscoa, o cordeiro que seria morto era separado (Ex 12.3-6) e no dia 14 era levado ao templo para ser morto, sendo imediatamente conduzido para a casa, onde seria assado.
A festa da páscoa é o mais importante dos memoriais do Antigo Testamento, sendo o início de uma série de acontecimentos sem precedentes, que culminaram na entrada do povo na Terra Prometida.

Os elementos de celebração da Páscoa Judaica

Quando Deus instituiu a páscoa, apenas três elementos foram incluídos nesta celebração: o cordeiro assado, os pães asmos e as ervas amargosas. Ao longo dos anos, porém, outros elementos foram adicionados pelos judeus à ceia de Páscoa. A refeição pascal é chamada Seder, que significa “ordem”, pois segue uma ordenação ou ritual. Estes eram os elementos que faziam parte da Páscoa judaica tradicional, cada um com um significado especial:

      O Cordeiro Pascal: Lembrava a proteção, o livramento dos primogênitos da casa dos filhos de Israel, quando cada família israelita aspergiu o sangue do cordeiro nas ombreiras e na verga da porta. Era uma lembrança e uma comemoração deste maravilhoso livramento (Êx 12). Era um sacrifício em substituição: o cordeiro morria em lugar do primogênito.
        Os Pães Asmos (hebraico matsah): Lembravam a saída urgente de Israel da terra do Egito, sem tempo para esperar a fermentação da massa. Também representavam a separação entre os israelitas redimidos e o Egito. Também chamado de “pão de aflição”, que representava os sofrimentos dos filhos de Israel (Êx 12.15,34,39; Dt 16.3).
        Ervas Amargas (hebraico marór): Lembravam as amarguras da escravidão no Egito (Nm 9.11).
    Água Salgada: Lembrava as lágrimas salgadas derramadas pelos israelitas durante os seus anos de escravidão no Egito.
        O Molho de Frutas (hebraico charoshet): Lembrava a massa de tijolos que os filhos de Israel tinham de preparar na terra do Egito (Êx 5.6-19).
       Quatro Cálices de Vinho: Lembravam as quatro promessas de Deus ao povo de Israel: vos tirarei, vos livrarei, vos resgatarei, vos tornarei (Êx 6.6,7). Eram chamados cálice do êxodo ou da santificação, cálice da libertação, cálice da bênção e cálice da eleição.

Jesus celebrou a Páscoa

Jesus também cuidou dos preparativos para a sua Páscoa, enviando Pedro e João para encontrar um homem que levava um cântaro de água e os conduziriam até o local designado para esta celebração (Lc 22.8-10; Mt 26.18; Mc 14.13). Eles assim fizeram e prepararam o cenáculo onde Cristo estaria com eles.
O Mestre declara que tinha desejado muito comer aquela última Páscoa com os seus discípulos (Lc 22.15,16), antes da crucificação. Os doze apóstolos reclinavam-se junto a uma mesa baixa para comer os elementos da Páscoa (Mt 26.20; Jo 21.20), diferentemente da primeira Páscoa, que foi comida apressadamente, de pé (Ex 12.11). Os alimentos eram colocados na Keará, um prato especial que fica em frente ao lugar onde senta o chefe da família.
Jesus certamente conhecia a sequência estabelecida pela tradição judaica para esta celebração. Quatro cálices de vinho eram tomados naquela noite e antes de servir o primeiro, Jesus deu graças e deu-o aos Seus discípulos (Lc 22.17).
Havia também uma lavagem cerimonial, que foi realizada por Jesus (Jo 13.4,5). O Mestre tomou o papel do servo para si e deu uma lição de humildade a seus discípulos. Depois da lavagem, a celebração continuava com a ingestão de ervas amargosas (salsa, endívia e verduras de folhas semelhantes), que lembravam a aspereza da escravidão. Elas eram acompanhadas de pão sem fermento, imersas num molho picante feito de romãs, maçãs, tâmaras, figos, passas e vinagre (charoshet). Este molho tem cor de cimento e lembra o trabalho escravo no Egito.
Em seguida o segundo cálice era passado, quando o chefe da família explicava o significado daquela festa e todos cantavam os dois primeiros salmos do Hallel (salmos 113 a 118). Depois, o cordeiro era distribuído pelo dono da casa, acompanhado de pães asmos. Foi provavelmente num destes momentos que Jesus declara que algum dos doze o trairia (Mt 26.21), aquele que “mete a mão no prato” (v23). Cristo cita o Salmo 41.9, indicando o seu significado messiânico (Jo 13.18). Judas pergunta: “Sou eu?” e Jesus responde: “Tu dissestes” (Mt 26.25). Este comentário deve ter sido feito em voz baixa, de forma que os outros não ouviram. Pedro faz um sinal a João para que pergunte a Jesus quem era o traidor (Jo 13.23-26). Jesus o identifica dando-lhe um pedaço de pão molhado, mas aparentemente os outros não perceberam o seu ato.
Jesus diz ao traidor: “o que tens a fazer, faze-o depressa”, mas os outros apóstolos não entendem o significado desta declaração (Jo 13.27-29). Os líderes judeus talvez preferissem deixar a prisão de Jesus para depois da Páscoa (Mt 26.5), mas Cristo estava no controle do cronograma divino e precipita tudo para aquela noite, a fim de cumprir o seu papel como Cordeiro Pascal. Judas saberia onde levar os guardas, pois Jesus sempre ia orar com os discípulos no Getsêmane (Jo 18.2).

A instituição da Ceia do Senhor

Jesus transforma a celebração da Páscoa numa nova cerimônia, a Santa Ceia. Toma um pão, dá graças, o parte e dá aos discípulos, dizendo: “Isto é o meu corpo”. Em seguida, toma o terceiro cálice de vinho, dá graças e o serve aos discípulos, com as palavras: “Este é o cálice da nova aliança” (Mt 26.26-30). Este terceiro cálice de uma celebração tradicional de Páscoa era chamado “o cálice da bênção”, mesma expressão usada por Paulo na orientação dada a igreja em Corinto sobre este assunto (1 Co 10.16). Cristo estava instituindo o que se tornaria uma recordação da sua morte (Lc 22.19), pois Ele mesmo seria o Cordeiro pascal que morreria pelos homens.
Ao final, o Senhor declara que esta seria a última Páscoa com os discípulos até que Ele retornasse para estabelecer o Reino de Deus, reafirmando a promessa do Seu retorno para buscar os seus discípulos e estar com eles para sempre (Jo 14.3).
A celebração é concluída com um cântico, provavelmente do Salmo 118, último cântico do Hallel, forma tradicional de encerrar a ceia da Páscoa entre os judeus.

A última Páscoa

Esta seria a última Páscoa sancionada por Deus, pois o Antigo Testamento, com seus rituais seriam cumpridos na morte de Cristo, algumas horas depois. Uma Nova aliança estava sendo estabelecida. Jesus tomou alguns elementos da refeição pascoal e transformou numa nova celebração.
A Páscoa judaica encontra seu comprimento e seu fim na, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa no AT e a Ceia do Senhor Jesus no NT apontam para uma mesma coisa: o Sacrifício de Jesus Cristo!
             A Ceia do Senhor Jesus inicia uma nova era e aponta para uma obra já consumada. No cenáculo deu-se um acontecimento notável: A Festa Pascal foi solenemente encerrada (Lc 22.16-18), e a Ceia do Senhor Jesus instituída com uma solenidade ainda mais sublime (Lc 22.19-21; 1 Co 5.7). Portanto, naquela ocasião terminou um período e começou outro. Cristo era o cumprimento de uma ordenança e a consumação da outra. A Páscoa agora tinha alcançado seu propósito profético, porque o Cordeiro que o sacrifício simbolizava ia ser morto naquele dia. Por isso foi substituída por uma nova celebração, apresentando a verdadeira realidade do Cristianismo, como a Páscoa tinha apresentado a do Judaísmo. O Êxodo deu vida à nação de Israel. O sacrifício de Cristo fez nascer a Igreja, um povo proveniente de todas as nações.

Conclusão

Jesus como judeu comemorou a páscoa, mas a partir desta instituiu a Santa Ceia. Ele é a nossa verdadeira páscoa, que foi sacrificado por nós (1 Co 5.7) e agora comemoramos a Sua morte e ressurreição. A páscoa representa para os cristãos o próprio Cristo e seu sacrifício. A Páscoa era uma cerimônia para os judeus que foram escravos no Egito. A ceia é uma ordenança para nós que fomos libertos por Cristo da escravidão de pecado e o aguardamos em glória.
Assim, não celebramos a páscoa judaica, pois uma nova instituição foi feita por Jesus. Ele cumpriu o sentido profético da páscoa e nos deu um novo memorial como ordenança: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19; 1Co 11.24,25).

Leitura sugerida:
MacARTHUR Jr, John. A Morte de Jesus - prisão, julgamento e crucificação de Cristo e o seu significado redentor. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Unção com Óleo

Tema do culto de doutrina na Assembleia de Deus no bairro de Gramoré, em Natal / RN.

Para baixar os slides, clique aqui.

Para assistir o vídeo, clique aqui.

Pr. Kleber Maia

domingo, 5 de janeiro de 2014

Influenciar ou ser Influenciado


Tema do culto de doutrina na última quinta-feira, o primeiro de 2014, na
Assembleia de Deus no bairro de Gramoré, em Natal / RN.

Clique aqui para baixar os slides.

Clique aqui para ver o vídeo.

Pr. Kleber Maia

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Bíblia e o Trabalho

Lançamento do meu novo livro, na Assembleia de Deus em Gramoré, dia 18/01.

Questões Éticas em Êxodo 1

Questões Éticas em Êxodo 1

Carlos Kleber Maia

Diversas questões éticas podem ser abordadas a partir deste capítulo, das quais faremos uma breve análise:

1.    Obediência civil - As parteiras Sifrá e Puá desobedecem a uma ordem direta de Faraó, ao deixar viver os filhos dos hebreus.

Esta questão é muito importante para todos os tempos: Até onde devemos obedecer aos governantes humanos?
É certo que Deus quer que obedeçamos às autoridades, pois Ele mesmo as estabeleceu (Rm 13.1-7), mas quando estas autoridades vão contra a Autoridade Maior, Deus, devemos obedecer a Ele e não aos homens (At 5.29).
Deus é o único que tem autoridade e o único que pode concedê-la. Isto significa que toda autoridade que há no mundo provém de Deus. Deus tem autoridade direta; o homem, só tem autoridade delegada. No entanto, só obedecerá à autoridade que Deus delegou aquele que reconhece e se submete à autoridade do próprio Deus.

No Brasil, algumas leis têm sido estabelecidas de uma maneira arbitrária e que contrariam a Palavra de Deus, tais como: casamento entre pessoas do mesmo sexo, a lei da palmada - que inibe a capacidade paterna de corrigir os filhos, o aborto, etc.

No texto, não somente as parteiras, mas também a filha de Faraó desobedeceu ao rei.

O Senhor Jesus nos deu exemplo de submissão à autoridade do governo (Jo 19.11).

2.    Violência contra os inocentes - Faraó mandou matar os bebês, como forma de controlar o crescimento populacional dos hebreus.

O tirano rei do Egito determina um infanticídio, ordenando a morte dos meninos, para que vivessem apenas as meninas (estas seriam mais fracas e menos resistentes numa rebelião). No entanto, Deus usa apenas as mulheres para garantir o nascimento e a sobrevivência do libertador, Moisés: as parteiras, sua mãe, sua irmã e a filha de Faraó.

Isto mostra um perverso controle de natalidade e nos leva a pensar sobre certas questões:
a)    A Bíblia proíbe o controle de natalidade? Não temos textos claros sobre o assunto. É certo que ter filhos era considerado uma bênção (Sl 127.3-5), pois naquela sociedade que dependia da agricultura e pecuária, quanto mais braços para o trabalho, melhor. No entanto, a Palavra de Deus não diz que devemos ter um número elevado de filhos. É preciso considerar o contexto sócioeconômico deste texto. Nos nossos dias, quando a educação de filhos tornou-se algo muito dispendioso, o casal deve planejar com responsabilidade o crescimento da sua prole, pois devemos cuidar da nossa família (1 Tm 5.8).
b)    A Bíblia reconhece a existência da pessoa humana antes do seu nascimento? Sim. Há um grande debate sobre o momento em que o feto se transforma numa pessoa. Alguns afirmam que é no momento em que o feto pode viver fora do útero; outros, quando o cérebro passa a funcionar; outros, quando o feto sente sensações, dor, etc; outros, quando ele se movimenta ou tem a forma de uma pessoa; outros ainda, quando ele nasce. No entanto, nem a independência, nem o funcionamento do cérebro, nem a ausência de sensações, nem a movimentação ou forma humana definem uma pessoa e a defesa da vida humana a partir da fecundação do óvulo possui tantos argumentos científicos quanto qualquer outra posição.

Deus forma o espírito do homem no ato da fecundação. A diferença entre o óvulo fecundado e um adulto é apenas o tempo e a nutrição! O óvulo fecundado tem um dia, uma semana, três meses, quatro meses e o adulto tem 20 anos, 30 anos, 40 anos ou 50 anos. O embrião é uma pessoa porque no seu desenvolvimento ele não pode se tornar outra coisa a não ser pessoa. Nenhum corpo vivo pode tornar-se pessoa a não ser que já seja pessoa. Ser e humanidade não estão em ordem crescente. Ser e humanidade são inatas; não são adquiridas. Ou seja, nenhum ser humano é mais humano do que outro. O que difere é: o tempo e a nutrição. Por isso que o embrião é um ser humano.

A Bíblia mostra isso: João Batista foi cheio do Espírito Santo enquanto ainda se encontrava no ventre materno (Lc 1.15) e também reconheceu Jesus, já presente no ventre de Maria (Lc 1.44). Deus se relaciona com pessoas ainda não nascidas (Sl 139.13-16; Jó 10.8,11; 31.15; Jr 1.4-5; Gl 1.15, 16; Is 49.1,5). Deus não faz distinção entre vida em potencial e vida real, nem distingue estágios de desenvolvimento do ser. Deus enxerga os que ainda não nasceram e se encontram no ventre materno como pessoas.

É Deus quem dá a vida e somente Ele tem a autoridade de tirá-la (1 Sm 2.6; Zc 12.1; At 17.25,28).

3.    Mentira - As parteiras declaram a Faraó que as hebreias tinham seus filhos sozinhas e Deus as abençoou por sua ação.

Elas podiam estar mentindo sobre isto. Deus aprova a mentira dita com boa intenção? Não. As parteiras egípcias (Ex 1.15-21) disseram ao Faraó que chegavam tarde ao parto das hebreias, o que não é necessariamente mentira (Elas podiam apenas desobedecer atrasando-se deliberadamente).
Raabe mentiu para proteger os espias (Js 2.4-6). Podemos entender sua atitude dentro da situação – vidas em risco, mas nunca dizer que a Bíblia aprova ou defende sua atitude. Neste mesmo tipo de situação Abraão (Gn 12.12-19) e Davi (1 Sm 21.2) também mentiram. Raabe era uma pecadora que foi salva por sua fé e não por sua elevada moral.
A bênção de Deus sobre as parteiras não foi por causa de sua mentira, mas por causa da sua intenção para com o Seu povo. Ele as abençoou apesar dos seus atos.

Entretanto, uma questão importante surge: quando é inevitável cometer um pecado, o que fazer? Se alguém esconde um perseguido em sua casa, e os bandidos que o buscam perguntam: Ele está aí? Se disser que sim, o inocente morrerá. Se disser que não, estará mentindo.
No livro Introdução à Filosofia (Norman L. Geisler e Paul D. Feinberg. Cap. 27), temos uma boa explanação com relação à nossa postura em situações difíceis. O autor coloca algumas possibilidades:
1.    Nunca devemos mentir para salvar uma vida;
2.    Nunca devemos pecar para evitar o pecado;
3.    Devemos confiar na providência de Deus;
4.    Devemos escolher o mal menor.  (A pessoa é simplesmente obrigada a cometer o menor dos dois males, e então confessar seu pecado. Qualquer que seja a decisão, a pessoa comete um mal. O mal menor nunca é justificável);
5.    Devemos escolher o bem maior. (Significa obedecer à lei superior - conforme revelada na Palavra de Deus - sempre que há um conflito inevitável entre dois mandamentos divinos, ou mais).

O mal menor em situações conflitantes nunca é justificável como tal; é simplesmente perdoável. O dever da pessoa é cometer o mal menor, não o maior. Deus não manda que a pessoa peque em situação de conflito, pois Deus não pode pecar nem pode mandar que outros pequem (Tg 1.13).
Podemos concluir dizendo que as Escrituras nunca aprovam os pecados cometidos por aqueles que temem a Deus, mas registra os fatos. As parteiras e Raabe, não foram elogiadas pela mentira, e sim pela fé que exerceram.
Diferente de uma mentira “branca” é não dizer toda verdade, para proteger alguém. Deus ordenou a Samuel que não dissesse o motivo real de sua viagem a Saul, quando foi ungir Davi (1 Sm 16.1). Ele não mentiu, pois foi sacrificar, mas se revelasse o outro motivo maior, correria risco de ser morto.
Deus certamente não aprova a mentira, mas em sua misericórdia poderá entender a fragilidade humana e suas atitudes falhas sob circunstâncias difíceis.

Solo Dio Gloria!