Precursores
dos profetas
Há três precursores dos
profetas: Moisés foi o “manancial da tradição profética” por sua relação
especial como porta-voz de Deus e mediador entre Javé e Israel (Nm 12.6-8). Sua
experiência no Sinai foi além da experiência profética normal, e ele se tornou
o profeta escatológico, de
acordo com Deuteronômio 18.15-22. Na verdade, há evidências das "ligações linguísticas,
estruturais
e temáticas entre Moisés e Isaías, por
um lado, e Jeremias e Ezequiel, por
outro". Samuel, em seguida, é o "modelo do papel profético",
chamado em Atos 3.24 de o primeiro profeta (e em Atos 13.20 de o último dos juízes) e do "profeta de Javé"
para a nação
(1Sm 3.20). Assim, ele se coloca no
ponto decisivo da progressão de juízes à monarquia e aos profetas.
Desse modo, foi o "guardião da teocracia" em termos de manter a nação
fiel a Deus. Por fim, Elias foi quem "modelou o curso dos profetas
clássicos". Mesmo não tendo deixado um livro de profecias, ele estabeleceu
o padrão para a profecia da destruição contra um
povo idólatra e
foi o primeiro dos "acusadores da aliança" contra o povo. John Eaton
considera quatro coisas que contribuíram para a grandeza dos profetas
hebraicos: (1) a crítica que eles faziam à sociedade; (2) as visões de salvação
(um mundo novo e um governante messiânico); (3) a dedicação pessoal (viver
completamente a serviço de Deus); e (4) a literatura (oferecendo não apenas a condenação,
mas o sentido e a esperança). As grandes crises da nação geraram grandes
profetas para satisfazer essas necessidades.
O chamado do profeta
O chamado do profeta pode ocorrer
por meio
de uma experiencia de revelação
sobrenatural, como nos
casos de Isaías (6.1-13) ou Jeremias (1.2-10); mas também pode ocorrer por meios naturais, por exemplo,
quando Elias lançou
o seu
manto sobre Eliseu (1Rs 19.19-21), significando a transferência de autoridade
e poder, e isso pode envolver
também a unção
(1Rs 19.16). Ao
contrário do sacerdote ou do rei, o profeta jamais assumiu seu "ofício" de forma indireta,
por herança,
mas sempre
de forma direta como
resultado da vontade divina. O significado do chamado é sempre
o mesmo:
os profetas não
estão mais no controle de seu
próprio destino, mas pertencem
de forma absoluta a
Javé. Eles não falam por si mesmos
e nem
mesmo podem querer proferir a mensagem (ver Jr 20.7-18), mas estão sob o
domínio de Javé, chamados para proferir a mensagem divina ao povo.
Muitas vezes Deus usou uma ação
simbólica para fazer chegar a verdade ao profeta. Isaías foi
tocado na boca com uma brasa viva, o que significava a purificação de sua
mensagem (Is 6.7).
Ezequiel recebeu
a ordem de comer um rolo que "era doce como o mel" (Ez 3.3), o que
significava a alegria de comunicar as palavras de Deus. No entanto, a principal
ênfase é o envolvimento direto de Deus e a natureza reveladora
da mensagem
do profeta. Dois gêneros do at dependem de um sentido de
revelação divina direta: a Torá (a
lei ou partes legais do Pentateuco) e os profetas (o apocalíptico no at é um subgénero de
profecia). Esses são os únicos gêneros do at com um sentido tão direto de autoridade. A questão da autoridade é
importante na hermenêutica, e os profetas dão a interpretação crucial para tais
discussões. Sobre o profeta "veio o Espírito de Deus" (2Cr 15.1;
20.14; 24.20; Is 61.1;
Ez 2.2; Jl 2.28). Esse sentido de inspiração divina estava na base
da autoridade profética.
Extraído
de “A Espiral Hermenêutica”, de Grant R. Osborne (Ed. Vida Nova), páginas
331,332.
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