segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Água no Mundo Bíblico


A água no mundo bíblico 


O mundo bíblico tinha grandes preocupações quanto à água e sua escassez. Quando as chuva não vinham, quando as fontes esgotavam e os poços secavam, a estiagem e a fome tornavam-se realidade. Por isto Abraão migrou para o Egito (Gn 12.10). O mesmo motivo levou os irmãos de José ao Egito (Gn 42.5). Noemi e seu esposo viajaram a Moabe pela mesma razão (Rt 1.1). Davi enfrentou uma estiagem de 3 anos (2 Sm 21.1). 

As culturas bíblicas desenvolveram sistemas para protegerem-se das estiagens. As cidades cresceram ao redor de fontes naturais, perfuraram poços para coletar água e construíram cisternas para armazenar o precioso líquido. Algumas eram grandes cavernas escavadas nos leitos de rocha e impermeabilizadas. 

A seriedade com a água era tratada pela cultura bíblica não deveria nos surpreender. As chuvas determinavam a fertilidade da terra e o sucesso de cada plantação. Já que o desenvolvimento de fontes de água (como o manejo de um rio) era humanamente impossível, ficava claro que somente Deus tinha o destino da agricultura de Israel. 

A água também desempenhava um papel vital nas tradições religiosas de Israel. Rituais de purificação viam-na como um ingrediente essencial para lidar com a lepra e outras doenças, para a lavagem de utensílios e para limpar-se após tocar em um cadáver (Lv 15; Nm 5.2). A água era tão preciosa, que era usada até como oferta perante Deus (1Sm 7.5,6). Distinções qualitativas da água também eram habituais. A chuva outonal trazia festivais sempre em outubro. A nascentes que se avolumavam após a estação das chuvas simbolizavam a bênção de Deus. Estas eram comparadas à água que fora armazenada em cisternas durante o ano. Nos dias de Jesus, o judaísmo fazia distinção cuidadosa não da qualidade ou sabor da água (embora a das nascentes fosse inerentemente melhor), mas de sua origem. A água das nascentes era usada nos rituais religiosos de Israel. O judaísmo fazia diferença entre água "viva" e água comum. 

A lei oral do judaísmo primitivo (o Mishnah) devotou um capítulo inteiro à classificação de tipos de água para usos especiais (mikva'ot). Água "viva" não é uma referência à água em movimento ou fresca, mas àquela que vem diretamente da mão de Deus (da chuva, da nascente, de um rio). Esta água não foi transportada, nem erguida por mãos humanas e carregaria uma autoridade divina (Mishnah, mikva'ot 3-4). Muitos rituais de purificação devem acontecer em águas vivas. Em Qumran, onde os pergaminhos do Mar Morto foram encontrados, os tanques não podiam ser enchidos com água comum transportada, mas deveriam ser diretamente ligados a uma finte que corresse de algum rio dos arredores. Na verdade, esta água viva era considerada tão potente, que apenas uma gota bastava para transformar um tanque inteiro de água comum em algo que pudesse purificar ritualmente, pois a água viva tinha o poder de limpar e purificar. Isto ajuda-nos a entender porque João Batista requeria dos moradores de Jerusalém que marchassem pelo deserto até chegarem ao rio Jordão para o batismo. A água viva simbolizava sobra vivificante e purificadora que vem somente de Deus. 

Quando Deus castiga, os céus se fecham e a terra seca, como nos dias de Elias (1 RS 17).

Todo ritual de purificação ficaria prejudicado sem as águas de chuvas, nascentes ou ribeiros, durante uma prolongada estiagem.
 

Adaptado de A Bíblia e a Terra, de Gary M. Burge (CPAD), capítulo 6.

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